terça-feira, 8 de julho de 2008

Painel sobre situação da América Latina

Didier Dominique (Haiti)

Didier Dominique é um dos dirigentes do Batay Ouvriye e iniciou seus 20 minutos de palestra contando um pouco sobre a história da ilha caribenha e o que acontece por lá.

“Precisamos entender que depois da segunda guerra, a indústria têxtil não conseguiu se mecanizar, fabricante de roupas, tênis e de bolas esportivas - de futebol, vôlei e beisebol - conhecida com a indústria da agulha”, disse.

Segundo Didier, a não modernização dessa indústria a manteve em constante deslocamento para que pudesse obter lucros onde a mão-de-obra fosse mais barata. “Primeiro foi para o México, depois para a América Central, Caribe, África e China”.

Esta iniciativa estava presente num documento elaborado em 1970 por uma equipe de Ronald Reagan (então presidente americano). O documento indicava que o Caribe devia se transformar numa plataforma de produção barata. A partir daí, de acordo com Didier, houve uma grande desestrutura do mundo rural: “antes o Haiti exportava açúcar e agora o importa, as indústrias compraram as fábricas para fechá-las, com o arroz foi a mesma coisa”.

Para entender porque aconteceu isso no Haiti, Didier diz que é preciso ver que o colonialismo extremo chegou à ilha 200 anos depois das colônias normais. “Por isso a revolução dos escravos foi a única vitoriosa no mundo. “O povo armado expulsou 160 mil homens de Napoleão”, disse.

Os países que pegaram armas, dinheiro e homens do Haiti aceitaram o embargo proposto pelos EUA. Depois disso, a França cobrou uma dívida de mais de 60% de toda a produção da ilha por ano. “Vivemos muitos golpes de estado. Em 1915, por exemplo, os americanos vieram e ficaram por 19 anos”, afirmou.

O dirigente ainda lembrou das dificuldades das táticas sindicais no país, pois elas devem ser clandestinas. “Isso nos deixa numa miséria obrigatória, a miséria é parte dessa lógica, pois parece que a zona franca é uma ajuda”, enfatizou.

Para Didier, a intervenção militar representa os interesses dos capitalistas naquela região: “O filho do vice-presidente brasileiro vai negociar como explorar a mão-de-obra haitiana que é a mais barata da América Latina”.

Apesar de tudo, Didier afirma que diante de tanta miséria as massas se levantam rapidamente e é por isso existe a intervenção militar. “Até as manifestações estão sendo proibidas”, concluiu.

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